A expansão antrópica no espaço terrestre tem como consequência a fragmentação dos espaços naturais, para dar lugar a empreendimentos industriais, fronteiras agrícolas, moradias e demais tipos de atividades. A perda de biodiversidade decorrente destas ações é comparada, por alguns autores, a outros eventos de extinção em massa pelos quais o planeta já passou ao longo das eras.
Como forma de manter e restaurar esta biodiversidade, várias estratégias vêm sendo adotadas pelo mundo, com diferentes graus de sucesso. Dentre elas, a formação de corredores ecológicos se destaca como uma proposta de grande valor, tendo em vista as seguintes premissas:
- Aumentar a conectividade entre fragmentos florestais;
- Reduzir o potencial de isolamento decorrente da fragmentação de habitats e remanescentes florestais;
- Atenuar as consequências deletérias do efeito de borda em fragmentos florestais;
- Aumentar a mobilidade de espécies por entre os mosaicos de biodiversidade.
Os corredores foram usados, inicialmente, de forma empírica desde o início do século XX nos EUA. As espécies de interesse em foco eram as utilizadas na caça de subsistência/esportiva. No Brasil, desde a década de 1970 são peça de política pública, já sistematizada em lei ( Lei Federal 9985/2000 – estabelece o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação).
Alguns autores apontam sua importância para a manutenção de metapopulações viáveis de animais e vegetais, mantendo a coesão genética necessária para evitar processos de extinção em massa de espécies por conta de isolamento geográfico e baixa variabilidade genética ou adoecimento e perturbação de metapopulações por conta de contato humano ou com animais domésticos e exóticos.
Obviamente, nem todos os pesquisadores apontam benefícios. Há também observações que apontam a possibilidade de a formação destes corredores oferecerem vantagens a algumas espécies nativas em detrimento de outras (como em uma relação de predador e presa), o que torna a elaboração de estudos prévios e profundos sobre a paisagem e os hábitos das espécies endêmicas de vital importância para o sucesso do empreendimento.
Muito embora as vantagens do uso desta ferramenta para a manutenção da biodiversidade sejam notáveis, ainda existem muitos entraves para sua implantação. O custo político para a construção de unidades de conservação é muito alto. Poucos dos que labutam na política estão dispostos a pagar o preço de lutar pela biodiversidade. É um tema caro por muitos em sua superficialidade, mas que vai de encontro a diversos outros interesses.
Pelo viés da economia, a implantação de Unidades de Conservação para fortalecimento e desfragmentação de paisagens pode trazer muitos dividendos a partir de atividades sustentáveis como agroecologia, agroecoturismo e extração sustentável de produtos florestais. No entanto, há um embate muito forte com outras frentes de atividade humana.
Os temas que são muito caros e conflitantes quando falamos de conservação de recursos naturais são: expansão de fronteiras agrícolas, mineração, moradia, urbanização, grilagem de terras, especulação imobiliária… uma lista extensa e formada por interesses diversos de entes públicos e privados.
As populações locais e tradicionais ainda nutrem grande desconfiança de órgãos ambientais e ONGs que orbitam esta linha de trabalho. Entidades de preservação ainda são vistas como “destruidoras do modo de vida” ou “perseguidoras do homem do campo e populações tradicionais”.
Muito antes do trabalho duro e propriamente dito de criar unidades de conservação, corredores ecológicos e regras de convivência, a maior batalha ainda é ganhar a mente e os corações das pessoas. Mostrar que preservar a biodiversidade pode trazer mais dividendos do que um bom discurso: pode (e com certeza é!) ser a melhor solução para manter a saúde ambiental, econômica e social de um povo.
Referências
BRITO, F. Corredores ecológicos: uma estratégia integradora na gestão de ecossistemas. [s.l: s.n.]. Disponível em: <www.editora.ufsc.br>.
SEOANE, C. E. S. et al. Corredores ecológicos como ferramenta para a desfragmentação de florestas tropicais. Pesquisa Florestal Brasileira, v. 30, n. 63, p. 207–216, 28 out. 2010.