Alimento Vivo: o que é e como utilizar?

Pessoas que possuem répteis ou outros animais exóticos como pet em casa acabam se perguntando qual a melhor maneira de alimentá-los e se existe uma forma menos custosa de isso acontecer. O que muitos não sabem é a existência dos alimentos vivos, uma opção economicamente mais viável e uma forma de não estar sempre atrelado ao mercado, visto que nem sempre é possível encontrar para comprar o que os animais necessitam.

Os primeiros répteis em cativeiro começaram a aparecer nos anos 50, os tenébrios. Apesar de serem na época o único alimento que se produzia com sucesso, eles não eram tão ricos em nutrientes, o que acaba por levar à morte por má nutrição os animais que deles se alimentavam. Com isso, os criadores passaram a desenvolver diferentes técnicas para manter e reproduzir outras espécies de insetos para ter uma maior oferta de alimento para seus répteis de estimação.

Antes de começar a produzir alguma espécie para servir de alimento vivo, é preciso estudar a melhor forma de fazê-lo, como começar, manejar e cuidar. Assim, estará pronto para comprar uma quantidade para começar de uma forma em que tenha sempre população suficiente para alimentação, mesmo que retire semanalmente sem que cause impacto na produção. Cada espécie possui uma forma de produção e aqui iremos falar sobre algumas delas.

Tenebrio molitor

Uma das espécies mais fáceis de produzir e cuidar são o tenébrio (tenebrio molitor), uma larva de escaravelho adulto que varia de 1,5 a 1,8cm que possui larvas de até 2,5cm. Possui um ciclo de 3 meses, podendo aumentar caso as larvas estejam em ambiente fresco, como um frigorífico, aumentando seu tempo larval.

O ciclo começa quando a fêmea de escaravelho põe ovos, podendo alcançar um número de 160 ovos por ano! Essas larvas nascem bem pequenas, alcançando seu tamanho máximo por volta de 5 semanas, onde irão formar a pupa, saindo como escaravelho adulto algumas semanas depois. Os escaravelhos adultos morrem após se reproduzir, onde irão deixar no substrato os ovos para a próxima geração.

Geralmente esta espécie é fornecida como alimento vivo em sua fase larval tanto para répteis quanto para mamíferos exóticos, como esquilos. Mesmo não sendo tão nutritivos, animais como o lagarto armadillo (Cordylus cataphractus) costumam os apreciar (uns aperitivos, talvez?). Contudo, essas larvas devem ser dadas apenas como complemento, visto que em grandes quantidades e dadas frequentemente podem causar intoxicação por excesso de gorduras e proteínas.

Para a produção de tenebro molitor é preciso que tenha:

  • Uma caixa plástica de pelo menos 30 x 40 x 60 cm (A x L x C);
  • 250g de larvas de tenébrios;
  • 2kg de mistura de farelo;
  • Rede mosqueteira;
  • Frutas e legumes.

Pegue a caixa plástica e faça alguns buracos na tampa, que deverão ser tampados pela rede mosqueteira, que servirá de passagem para ventilação. É importante que apenas ela tenha buracos, a caixa em si não pode. A mistura de farelo deve ser o mais nutritiva possível, podendo misturar farelo de trigo que se encontra em casas de ração, 200g de farinha de trigo e 200g de farinha para pinto, e devem ser postos no fundo da caixa. Quando o farelo está quase totalmente na forma de pó, coloque e espalhe mais meio quilo ao longo da caixa. O farelo precisa estar sempre solto e seco para não acumular umidade, caso contrário irá aparecer fungo, destruindo assim a sua colônia (RIP).

Para a fonte de água, use rodelas de batata, cenoura, alface ou casca de banana, eles irão retirar água desses alimentos, que devem ser trocados a cada 15 dias. Uma dica para facilitar a retirada dos restos é utilizar uma rede fina rente ao farelo, onde irá colocar as rodelas. Assim, é só levantar essa rede com cuidado para fazer a troca.

  Outra dica importante é utilizar caixa de ovo cartão (as de supermercado, sem ser as de plástico) a cada caixa de produção. Os escaravelhos irão utilizar os espaços vazios para colocar seus ovos sem que as demais larvas os comam (canibalismo que fala?).

Tá, estudando, mas qual é a vantagem do tenebrio molitor se ele não é nutritivo o suficiente? Eles se reproduzem rapidamente e não precisam de fonte de aquecimento, possibilitando sua permanência no sótão ou garagem à temperatura o ambiente durante todo o ano.

Os três estágios de T. molitor.

Grilos

Espécies como Gryllodes Sigillatus, Acheta Domestica e o Grillus Bimaculatos são algumas das mais criadas de forma massiva para se ter grilo como alimento vivo. Eles devem ser mantidos em caixas plásticas de pelo menos 35 x 25 x 40 cm (A x L x C) e ser ocupado por um quantitativo de 500 a mil grilos. Igual à caixa dos tenébrios, a tampa precisa possuir os buracos para ventilação, sendo cobertos pela rede mosqueteira de forma que eles não consigam fugir.

A caixa deve ser majoritariamente ocupada por caixas de ovos cartão, estando dispostas verticalmente para que os restos de comida e fezes caiam para o fundo. Cerca de 20% da caixa deve estar livre para que tenha espaço para colocar um prato com comida, composta por farelo, farinha de trigo e bolacha (biscoito) Maria moída, além de um pratinho com água. Para que eles não se afoguem e estejam no remake do filme Vida de Inseto quando a chuva cai (pena que não tem grilo no filme), o ideal é colocar frutas e vegetais como couve, serralha, laranja ou maça dentro da água. Além da água e comida, é preciso ter uma caixa com turfa úmida em uma rede mosqueteira para que eles consigam colocar seus ovos e o manterem seguros dos demais.

Para agilizar o processo de produção, é preciso colocar um tapete de aquecimento por baixo da caixa, mas do lado de fora, de forma que abranja as caixas de ovo e a caixa de turfa com os ovinhos, assim eles serão incubados em apenas 10 dias. Quando os grilinhos nascerem, a caixa de turfa precisa ser movida para uma caixa de reprodução nova e vazia, também com aquecimento por baixo. Nessa fase os grilos são pequenos e brancos, escurecendo com o passar das horas. Ao longo da vida farão várias mudas, sinalizando que estão crescendo, e quando passada uma semana do nascimento de todos os grilos você poderá colocar um cartão de ovos na horizontal, parando de deixar a comida espalha depois de mais uma semana, mas passando a colocar em pratinhos iguais na caixa dos adultos. Tenha cuidado na hora de remover os restos de comida para que não ocorra transmissão de doença.

Já na nova caixa dos grilos eles irão começar um novo ciclo. Um dia após os primeiros nascerem coloque pedaços de fruta, como laranja ou maçã, e um pouco de biscoito Maria em pó espalhada de forma que os grilos bebê tenham o que comer por toda a caixa. Nesta fase eles ainda estão bastante vulneráveis e podem morrer afogados com apenas uma gota de água. Enquanto os alimenta pode ser que alguns venham a morrer, então tome cuidado.


Na caixa dos adultos você já pode retirar a caixa de turfa com os grilos bebê, substituindo por uma caixa de turfa nova com o tampo em uma rede fina, tendo assim uma produção sustentável de grilos de todos os tamanhos caso os nascimentos ocorram de forma contínua.
A limpeza consiste em apanhar as caixas de ovos cartão juntas e colocar em uma caixa vazia. Alguns grilos irão junto, normalmente os doentes, que devem ser jogados fora (RIP), mas alguns saudáveis podem ir juntos também, então é só pegar com cuidado quando for retornar com eles. Remova o lixo do fundo e lave bem a caixa com água e sabão, seque bem e volte com tudo para dentro da caixa novamente. Esse processo deve ser feito todo mês. Você também pode colocar frutas e vegetais por cima das caixas de ovos, mas tomando cuidado para que os pedaços não sejam pequenos o suficiente para passarem no vão entre uma caixa e outra, senão correm risco de apodrecerem no fundo.

Baratas

De todos os alimentos vivos, este com certeza é o mais viável. Deixe se preconceito de lado, não podemos ligar todas as baratas à sujidade, já que a limpeza depende da nossa manutenção regular. Cumprindo todas as regras básicas você terá uma boa produção sem qualquer problema, além de ter um alimento vivo muito nutritivo e em quantidade abundante.

Uma das numerosas vantagens é o fato da barata já ser um alimento para todos os répteis e, além disso, são fáceis de manter e cuidar, são silenciosas, resistentes e prolíficas, e por certas espécies crescerem muito isso pode servir de alimento a um número maior de espécies de répteis de todos os tamanhos.

Algumas das espécies encontradas em criações são: barata da Argentina (Blaptica dubia), a  red runner (Hellfordella tartara), a barata da Jamaica (Blaberus craniifer) e barata gigante de Madagáscar (Gromphadorhina portentosa).

Blaptica dubia
Gromphadorhina portentosa

Todas as baratas necessitam de cuidados similares e de uma fonte de aquecimento no inverno, utilizando o mesmo tapete de aquecimento mencionado acima. A Barata da Argentina é a mais utilizada das espécies de baratas devido à sua resistência ao frio, facilidade de mantimento e reprodução, lentidão na locomoção (o que facilita de pegar caso tentem fugir), atingem um bom tamanho, não sobem nas caixas e vidros e o melhor: são bastante nutritivas (hmmkkk).

O recomendado é que compre pelo menos 100 baratas para cada réptil, fazendo com que mantenha uma colônia. Caso tenha menos do que isso, irá ter de comprar mais no futuro, pois irá ocorrer um déficit na quantidade que possui, pois não será o suficiente para repor as que já foram utilizadas como alimento.

Para mantê-los, coloque um tapete de aquecimento por baixo da caixa e no seu exterior, de forma que abranja a maior parte da base do cartão onde elas vivem, assim irão se afastar ou aproximar do fundo de acordo com a temperatura que seja necessário para elas no momento. Além disso, o tapete ajuda a eliminar oportunidades de crescimento de bactérias e fungos.

A caixa é a mesma mencionada nos grilos, possuindo o mesmo método de limpeza.

As Red Runners comem pouco, são menores e possuem preferência a alimentos moles, como frutas maduras ou pão molhado. São bem ágeis, então precisa ter muito cuidado para que não consigam fugir. Além disso, os machos adultos possuem asas e por isso acabam dando pequenos voos dentro da caixa, são menores e de tom laranja. Já as fêmeas são mais escuras, maiores dos que os machos (dimorfismo sexual) e não possuem asas.


As baratas da Jamaica e de Madagascar possuem um apetite voraz quando em boas condições. Algumas demoram mais tempo para se reproduzirem por demorarem mais tempo a se tornarem adultas. Para distinguir os sexos, o macho possui o abdômen com um segmento a mais na ponta na cauda. Essas duas espécies não fazem canibalismo, podem coexistir na mesma caixa.
A alimentação consiste em frutas, como banana, pera, laranja, casca de melancia ou melão. Qualquer fruta que esteja madura é indicada, bem como vegetais, principalmente a cenoura por ser mais nutritiva e demora mais para se decompor. Também se pode utilizar farinha em um comedor raso, com água sendo através de frutas igual as produções anteriores. Dessas duas, apenas a Gromphadorhina portentosa consegue escalar as caixas de plástico e vidros verticais, então mantenha sempre as tampas bem fechadas.

Bicho da seda (Bombyx mori)

São insetos com bastante teor nutricional e facilidade de produção, possuindo diversas espécies de bicho da seda. Atualmente existe ração à base de amoreira que, depois de preparada, pode ser a alimentação exclusiva do bicho da seda. Também é possível encontrar para comprar seus ovos, que devem ser mantidos em frigorífico antes da compra, onde irão nascer as lagartas 10 dias após saírem do local. Assim, é possível criar esse animal sem restrições, mas não deve ser o único na alimentação dos animais de estimação.
Para o loca, basta uma caixa de plástico com caixa de ovos cartão dentro, quanto mais bicho da seda, maior deve ser o espaço para elas. A caixa deve ter no mínimo 25 cm de altura ou possuir uma tampa que seja possível passar a luz do sol, fazendo buracos pequenos. É importante ter algumas folhas de amoreira reservas em caso de emergência, elas podem ser conservadas em saco plástico lacrado para não reter umidade, as deixando em um frigorífico. O ideal é colocar todo dia de manhã algumas folhas frescas para eles, as espalhando pela caixa. Não tem problema de a folha ficar por cima dos bichos da seda, pois rapidamente eles irão subir nelas 

Para a limpeza, retire todos os bichos e jogue fora o que estiver no fundo, voltando com as folhas secas e os insetos para dentro. Quando elas alcançam 6-7 meses de vida, irão começar a formar casulos para então virar pupa, saindo 10 dias depois uma borboleta branca de asas curtas que não conseguirá voar. Neste estágio, as borboletas não se alimentam e irão apenas se reproduzir. Uma fêmea coloca de 200 a 500 ovos e irão morrer entre 10 a 13 dias após saírem do casulo. Os ovos irão incubar em temperatura ambiente, eclodindo como pequenas lagartas na próxima primavera, iniciando um novo ciclo. Olhe como elas são muito lindas!

Ratos e camundongos

E não são só de insetos que pode alimentar seus bichinhos, roedores também são ótimas alternativas caso possua espaço, tempo e claro, animais que possuam os roedores como alimento. Eles podem alimentar répteis maiores, cobras e geckos leopardo. Deve ser dado sempre descongelado, mas os manter congelados diminui sua decomposição e manta os parasitas que possam eventualmente estar nele.

Também são uma importante fonte de proteínas, cálcio, minerais e vitaminas. Porém, lagartos menores devem comer com moderação devido ao alto teor de gordura, mas dado esporadicamente ajuda e prevenir doenças como o raquitismo.

Para a sua produção deve considerar seu forte odor a urina, quanto mais ratos maior o odor. O ideal é que permaneçam em um local pouco ou não habitado da casa, com boa ventilação e luz fraca. Utilize uma caixa plástica de 35 x 30 x 60 cm (A x L x C), tendo um grupo composto por um macho e cinco fêmeas. Para ajudar na diferenciação, utilize um macho com cor de pelagem diferente das fêmeas. Caso possua de uma a duas caixas de produção, poderá colocar mais um macho em cada grupo a fim de substituir caso algum morra e, por possuir cor distinta, será fácil distinguir qual o sexo o rato falecido, tendo de ser substituído o mais breve possível.

O fundo da caixa deve conter aparas de madeira, que absorvem a umidade e ajudam a neutralizar o mau cheiro. Para o alimento, utilize um recipiente raso o suficiente para que consigam comer, como um comedouro para gatos. Eles podem comer mistura para coelho com sementes à base de trigo, milho e alfarroba, além de ração para rato (é mais caro). Como complemento, utilize restos de fruta.

Para beberem água, faça um furo com o diâmetro do bebedouro a uns 3cm de distância do chão, colocado apenas a parte metálica no interior da caixa para evitar que o restante seja roído. Para a sustentação, faça dois furos em casa extremidade a fim de colocar um arame para servir de suporte. A tampa deve ser recortada e posta uma rede metálica para que haja ventilação para os animais e permita que eles possam escalar, eles são altamente ativos.

Dois meses após o nascimento eles já estão sexualmente maduros e, após uma gestação de 18 a 24 dias, poderão nascer de um a 15 filhotes (ou neonatos). Para o ninho, utilize uma caixa plástica e forre o fundo com papel ofício ou maravalha, que as fêmeas irão rasgar para formar o ninho. A maravalha de pinus é uma das mais indicadas, pois algumas soltam pó que é extremamente prejudicial às vias respiratórias e olhos dos ratos.

Ratazanas

Sua criação não é muito diferente dos ratos de laboratório. São maiores, precisando de maior espaço. Uma caixa utilizada para os ratos deve conter no máximo três ratazanas, sendo duas fêmeas e um macho. Caso decida ter mais animais, deve-se utilizar ma caixa maior, mas tenha cuidado ao possuir grandes grupos na mesma caixa pois elas são canibais (Luisa meeeeel).

Outra diferença é que consomem mais vitaminas e proteínas, podendo usar o mesmo alimento dos ratos somado a vegetais e frutas, assim como ração seca de cão ou gato.

Para a sua produção, possua caixas bem reforçadas já que esses animais tem a tendência de roer mais do que os ratos. Dentro dela, coloque um ramo de macieira ou pedaço de madeira para que possam desgastar os dentes (sugiro o mesmo para os ratos de laboratório), colocando folhas ofício ou maravalha para quando as fêmeas tenham filhote.

Já em relação ao valor nutritivo, possuem mais proteína do que os ratos, sendo uma opção melhor para répteis de maior tamanho, como pítons e répteis do gênero Varanus. Estes animais demonstram ser mais inteligentes e sociais do que os ratos e não mordem desde que sejam tratados com respeito.

E ai, o que achou? Pronto para começar a sua produção de alimentos vivos?