Afinal, por que os frangos de corte crescem tanto e tão rápido?
Para darmos essa resposta iremos contextualizar um pouco a cronologia dos fatos… A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) implantou seus primeiros projetos na avicultura de corte, objetivando o estabelecimento de métodos mais rentáveis de alimentação, aliados à reprodução e manejo das aves. Tais projetos foram impulsionados pela crescente importância da avicultura que determinou em 1978, a implantação no Centro de Pesquisa de Suínos e Aves (CNPSA), o Programa Nacional de Pesquisa de Aves (PNPAves), atendendo ao objetivo de coordenar e executar pesquisas dentro do Sistema Cooperativo de Pesquisa Agropecuário. O PNP-Aves tinha como objetivos, estabelecer prioridades e realizar a coordenação das pesquisas que resultassem em alternativas tecnológicas para o desenvolvimento da avicultura brasileira. Assim, resumidamente, foram desenvolvidos estudos sobre a digestibilidade de nutrientes dos alimentos e exigências nutritivas das aves, que objetivavam precisão no balanceamento de nutrientes das rações de modo que estas fossem mais eficientes quanto à nutrição e com menor custo.
Certo… Então, só porque os frangos comem “melhor” que crescem mais rápido que o The Rock?!?! NÃO!
A PARTIR DE 1962 houve importação de material genético de alta qualidade. No entanto não fazia sentido sermos dependentes deste material importado. Em 1965, o governo federal publicou um decreto, que proibia a importação de pintos comerciais e matrizes, permitindo a entrada apenas de avós. Sendo que este mesmo Decreto determinou que a partir de 1967, a importação de aves ficaria condicionada à execução de trabalhos de melhoramento genético de aves no Brasil. Assim, muitos órgãos de pesquisas fomentados pelo Governo Federal realizaram projetos de genética e melhoramento de aves.
Apesar de existirem alguns programas brasileiros de produção de material genético, a avicultura brasileira ainda caracteriza-se por dependência da tecnologia genética estrangeira quase que na totalidade (VAYEGO, 2007; SILVA, 2009). Dessa forma, o objetivo dos programas de melhoramento é a independência de material genético estrangeiro.
Conforme MENDES e SALDANHA (2004), a estrutura da avicultura nacional está dividida em atividades, que são: (1) número reduzido de granjas importadoras chamadas “avozeiros”; (2) filiais de empresas estrangeiras; e (3) empresas nacionais trabalhando sob o regime de contrato de representação do produto. Essas granjas produzem as matrizes que são criadas nas granjas “matrizeiras” que, por sua vez, vendem pintos de um dia para as granjas de engorda de frangos destinados ao abate. Ainda hoje são importados todos os materiais genéticos puros, entretanto, algumas empresas já fazem, no país, diretamente ou por intermédio de parcerias, desenvolvimento genético a partir de linhagens puras. Como o caso da empresa Agroceres Ross Melhoramento Genético de Aves S.A., composta pela Agroceres e a Aviagen (JESUS JUNIOR et al., 2007), e da Coob-Vantress que inaugurou em 2001, uma granja de bisavós da linhagem Cobb, localizada em Nova Granada, São Paulo (SANTINI, 2006).
Melhoramento genético dos frangos de corte
O melhoramento genético de linhagens avícolas tem contribuído para a crescente eficiência da avicultura brasileira (SILVA et al., 2007). É uma das áreas de produção animal que tem por objetivo obter uma população com genótipo superior para combinação de características de importância econômica (VAYEGO, 2007). O melhoramento inicia-se com a escolha dos melhores animais para a reprodução, métodos de cruzamentos e seleção. Assim, a obtenção de resultados satisfatórios em programas de melhoramento depende de diversos fatores, como:
objetivos e estrutura do programa;
coleta de dados;
importância econômica das características;
parâmetros genéticos;
tamanho da população;
intensidade de seleção;
métodos de seleção;
progresso genético esperado (LANA, 2000).
A definição dos objetivos do programa de melhoramento é o primeiro e talvez o mais importante passo a ser dado. A escolha errada das características a serem melhoradas pode ser equivalente ou até pior do que não promover o melhoramento de nenhuma característica. Se muitos reprodutores forem selecionados por razões irrelevantes aos objetivos do programa, então o grupo de animais escolhido provavelmente não será tão bom quanto o esperado em relação às características de interesse.
Seleção – seleção e melhoramento genético, num processo de seleção em uma população o primeiro passo é selecionar os melhores indivíduos, para aumentar a frequência dos genes desejáveis.
Formação das linhagens híbridas – variabilidade genética dos indivíduos, O SUCESSO DEPENDE da divergência genética dos progenitores. A formação das linhagens comerciais de frangos de corte existentes, é um híbrido, oriundo do cruzamento de três ou quatro linhagens puras.
As características observadas são: peso corporal, conversão alimentar, viabilidade geral e específica, rendimento de carcaça, rendimento de peito, gordura na carcaça, empenamento e ausência de defeitos. Nas linhas maternas, são enfatizadas as características de viabilidade geral e específica, fertilidade, eclodibilidade, produção de ovos incubáveis, empenamento e ausência de defeitos (VAYEGO, 2007).
Genética molecular – Atualmente, o conhecimento dos genomas é a principal fronteira da genética avícola. Com os sequenciamentos, foi possível determinar as funções específicas de boa parte dos genes que formam cada um dos genomas. Em um programa de melhoramento genético avícola, isto passa a ser fundamental, para se melhorar o processo de seleção (LEDUR et al., 2011)
Principais Características Zootécnicas no Frango de Corte
Velocidade de crescimento – Frangos de corte atingem o peso de abate muito mais precocemente do que os convencionais.
Conversão alimentar – O melhoramento genético aprimorou intensamente esta característica; basicamente, é a capacidade de “transformar” o alimento em peso vivo animal ( Ex: um frango come 2,5kg de ração para adquirir 1kg de peso)
Taxa de sobrevivência – Epidemiologia básica! Primeiro período da faculdade (lembram da bioestatística?). É o percentual de animais nascidos que atinge a idade/peso de abate. É uma característica de BAIXA HERDABILIDADE. Depende MUITO das corretas práticas de manejo, que veremos em postagens futuras.
Podemos concluir que, em avicultura de corte, através do melhoramento genético rotineiro aliado a uma excelente nutrição e manejo conseguimos ter frangos aptos ao abate com peso adequado em menos dias de crescimento.
Tudo parece muito interessante e fácil.
Mas tal seleção por características de interesse para a avicultura de corte pode ter consequências?
Quando você escolhe animais por ganho de peso, que pode ser traduzido em ganho de massa muscular muito alto, alguns achados podem se tornar rotina em sua granja. Querem exemplos? Desordens locomotoras e morte súbita em pintos.
Mas isso é assunto para um próximo post…
Escrito por: MVs Carla Soleiro e Raphael Scherer
Bibliografia
MARTINS, J.M.S. et al. Melhoramento genético de frangos de corte. PUBVET, Londrina, V. 6, N. 18, Ed. 205, Art. 1371, 2012.
Respostas de 3
Gostei muito texto e das informações trazidas. O conteúdo é altamente informativo e embasado e ao mesmo tempo leve. Parabéns por esse trabalho. Não é nada fácil falar de um tema envolvem genética e ser acessível ao entendimento da maioria. Mandou bem!!
Muito obrigado! A equipe anda bem animada aqui na produção de conteúdos e com o feedback dos leitores <3
Vamos postar maaaais! rs
MUITO OBRIGADA! 🙂 🙂