Doença de Haff – Vou morrer se comer peixes?

A rabdomiólise é definida como uma síndrome clínica-laboratorial que decorre da lise das células musculares esqueléticas, com a liberação de substâncias intracelulares para a circulação sanguínea. A maioria dos casos de rabdomiólise está relacionada com o consumo de álcool, exercício físico intenso, compressão muscular traumática e a utilização de determinados fármacos e drogas, além da ingestão de peixe contaminado.

Esta doença foi descrita em 1924 na cidade de Königsberg, no Báltico, em pessoas que se localizavam próximas a um lago, que em alemão significa haff, dando nome à enfermidade, sendo descrita na Suécia e na União Soviética entre os anos de 1934 e 1984. Apesar de também estar associada ao consumo de peixe contaminado, caracterizando mialgia e rabdomiólise, com sintomas aparecendo em até 24h após o consumo, esta doença continua sendo uma condição rara e a falta de conhecimento sobre ela contribui para o diagnóstico tardio.

Acredita-se que seja causada por uma toxina termoestável desconhecida, a qual não é inativada ao cozinhar o peixe. Entre 2016 e 2017, amostras de peixe cru foram coletadas em Salvador para análise da toxina, não obtendo nenhum resultado em relação à etiologia da doença. Os sintomas mais comuns são mal estar, dor muscular intensa, urina cor de Coca-Cola (urina preta) e enzimas elevadas no sangue. O que as vítimas possuíam em comum era o consumo de peixe Pacu, Tambaqui e Arabaiana – ou Olho-de-Boi (Seriola lalandi). Contudo, isso ocorre apenas quando são consumidos peixes selvagens capturados em ambiente natural ao invés do consumo de peixes de fazendas de cultivo.

De qualquer modo, é preciso que ocorra um diagnóstico clínico para a exclusão de outras doenças frequentes de rabdomiólise, realizando um diagnóstico preciso para evitar futuras infecções, além de indagar sobre consumo recente de peixe e investigação sobre pessoas próximas que possam estar apresentando sintomas semelhantes.

Nosso parecer foi que realmente pensávamos que tambaqui e outros peixes fossem culpados por esta doença, mas ao pesquisar vimos como a desinformação acaba prevalecendo, desmistificando este fato de que qualquer peixe poderia estar contaminado quando na verdade são os de vida livre que tem grandes chances de contaminação.

Referências Bibliográficas

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