Magnificação trófica – quando os males se acumulam

Você já ouviu falar em Magnificação Trófica?

A magnificação trófica, ou biomagnificação, ocorre quando um organismo contaminado é ingerido por outro organismo, ao longo da cadeia alimentar, causando um acúmulo de substância neste segundo indivíduo, decorrente da contaminação da sua dieta alimentar. Lembra-se do DDT? Então, se usarmos ele como exemplo, o predador de topo da cadeia poderá apresentar uma concentração desse químico até um milhão de vezes maior que a encontrada no ambiente, e muitas vezes maior que os níveis tróficos inferiores da sua cadeia trófica. Essa contaminação poderá, então, causar problemas ainda mais severos de saúde nos níveis superiores da cadeia trófica, ou seja, nos afetando por sermos o topo da cadeia.

Para se caracterizar como biomagnificação, o poluente deve ser:

  • Estável;
  • De longa duração no ambiente, ou seja, ser persistente;
  • Ser biologicamente ativo;
  • Móvel e solúvel em gorduras e tecido adiposo.

Se ele for instável, será decomposto antes de se tornar perigoso, se for imóvel irá ficar restrito a um local no ambiente, diminuindo as chances de algum organismo o consumir e se for solúvel em água será facilmente excretado pelo organismo. Contudo, poluentes que se dissolvem em gorduras conseguem se manter por um longo período no organismo, aumentando as chances de ser repassado para os demais níveis tróficos. Alguns exemplos de poluentes que podem gerar biomagnificação são metais pesados, DDT, toxinas, entre outros.

Em um estudo realizado em 1962 mostrou que o uso do DDT desencadeou um efeito significante na cadeia alimentar. Tanto o ser humano como aves marinhas eram alvos de contaminação por este inseticida tanto de forma direta (inalação) quanto por forma indireta (ingestão de alimentos). Isso de deve ao fato do DDT ser lipossolúvel, desencadeando grande poder de absorção pelos tecidos das vias digestiva e respiratória, e pela sua característica lipofílica que, associada à meia vida metabólica muito alta, faz com que o inseticida seja altamente acumulado no tecido adiposo, ocasionando o repasse de forma eficiente para toda a cadeia alimentar. Pelo ser humano ser o topo da cadeia, a contaminação por DDT é inegável. Através desse estudo, diversos países baniram seu uso devido ao seu altíssimo risco aos seres vivos, como Hungria (1968); Noruega e Suécia (1970); Alemanha e Estados Unidos (1972); e Brasil (2009).

No ano de 2010, na Irlanda, animais como gaviões, abutres e algumas águias foram encontrados mortos devido à ingestão de iscas de carne contaminadas com Alphachloralose, uma substância tóxica utilizada para controle de corvos e raposas.

No Brasil, os estuários foram as primeiras áreas costeiras ocupadas por assentamentos urbanos, portos e indústrias, sendo historicamente atingidos pela contaminação por metais provenientes de fontes antrópicas, recebendo maior aporte de contaminantes químicos. Metais como Cádmio, Mercúrio e Chumbo não possuem função biológica conhecida, além de apresentarem extrema toxicidade, tornando necessário seu monitoramento em regiões estuarinas sensíveis a contaminação. Esses metais pesados assumem grande relevância em saúde pública, pela elevada toxicidade, persistência, efeito cumulativo para o homem e pelo pescado ser considerado a principal fonte de exposição destes contaminantes.

O PNCRC (já mencionado em artigos anteriores!) é um programa federal de inspeção e fiscalização das cadeias produtivas de alimentos, o qual monitora a efetividade dos controles implementados pelos sistemas de produção e a respectiva qualidade e segurança dos produtos disponibilizados ao comércio e consumo, verificando a presença e o nível de resíduos de substâncias químicas que possam estar presentes, como aflatoxinas, metais pesados, contaminantes inorgânicos, dioxinas, entre outros.

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