Aposto dois dols que você com certeza já ouviu falar nesse nome.
A Salmonella sp. é uma enterobactéria (ou bactéria entérica, como preferir) responsável por graves intoxicações alimentares, sendo registrado em surtos em diversos países juntamente com outros agentes, sendo um dos principais microrganismos investigados em produtos alimentícios. Mas você sabe o motivo de sua presença em alimentos ser um relevante assunto quando falamos em problemas de saúde pública?
Infelizmente, mesmo em países desenvolvidos, os sintomas causados por salmonella sp podem ser mal diagnosticados, sobrecarregando ainda mais o sistema de saúde. A maioria dos sorotipos desse gênero é patogênica ao ser humano, possuindo diferenças de sintomatologia por conta da variação do mecanismo de patogenicidade, além da resposta imune do hospedeiro e a sua idade, sendo considerada uma das principais zoonoses em todo o mundo por conta da sua alta morbidade, endemicidade e dificuldade da adoção de medida de controle.
A importância de medida protetiva a fim de evitar o risco de infecção e controle da salmonelose é de grande interesse para a economia dos países em que ocorrem esses surtos. O Brasil é um grande exportador de carne bovina e aves, nada novo sob o sol, mas com isso vem a importância de estabelecer medidas de controle sanitário cada mais rígidas para evitar grandes prejuízos devido às perdas indiretas, através de embargos econômicos impostos por países importadores.
Por ser uma bactéria de ampla faixa de atuação, causando doenças graves em idosos, crianças e indivíduos imunodeprimidos, acaba sendo preciso um cuidado rigoroso e necessidade de hospitalização em alguns casos, desencadeando altos custos sociais e econômicos. No Brasil, 39,39 % das doenças transmitidas por alimentos indicaram Salmonella spp. como agente responsável entre os anos de 2000 a abril de 2013, possuindo com maior incidência de contaminação alimentos como ovos, doces e sobremesas, água, carne bovina, leites e carne de frango.
Em sua estrutura há apêndices filamentosos, as fímbrias, que possibilitam a aderência da bactéria às superfícies, facilitando a colonização com a posterior formação de biofilmes. Com isso, tornam-se mais resistentes ao estresse e adquirem maior resistência a antibióticos e desinfetantes, dificultando sua eliminação. Há ainda a preocupação do biofilme atuar como um substrato, onde atrai bactérias que normalmente não teriam a capacidade de formá-lo. Esses fatores são preocupantes nas linhas de produção na indústria alimentícia, já que a grande concentração de células aderidas aos equipamentos podem facilmente contaminar lotes inteiros de produtos.
O tratamento em humanos e animais consiste na utilização de agentes antimicrobianos a fim de cessar o processo infeccioso e, como muitas vezes esses medicamentos são utilizados de maneira inadequada, as bactérias podem adquirir mecanismos que as tornam resistentes a essas drogas (triste fim). Já na pecuária, esses agentes são utilizados na prevenção e tratamento de doenças, bem como promotores do crescimento, mas por conta desses medicamentos serem utilizados no tratamento de doenças em humanos, aumentou-se o risco do surgimento de bactérias resistentes e multirresistentes, podendo ocasionar infecções de difícil tratamento.
Na hora do consumo de animais como galinhas, porcos, vacas, répteis e anfíbios, é preciso que sejam muito bem limpos para que evite a contaminação por salmonelose, especialmente quando se trata de répteis e aves, já que os mesmos naturalmente possuem Salmonella no microbioma. E também, caro leitor, nada de comer ovo cru na esperança de parecer maneiro, pois também é possível adoecer em decorrência de Salmonella hein, cozinha ou frita isso antes, senão você vai ficar igual a esse esquema abaixo.
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